Maus-Tratos na Infância: Impactos Profundos na Memória e Aprendizado, Revela Estudo da USP
Descubra como traumas infantis impactam o cérebro e o aprendizado. Entenda os achados da USP e a importância da avaliação neuropsicológica.
Mauricio Maluf Barella
4/16/20252 min read


A infância é um período crítico para o desenvolvimento cerebral. Quando marcada por experiências traumáticas, como os maus-tratos, esse desenvolvimento pode ser comprometido de forma significativa. Um estudo recente da Universidade de São Paulo (USP), publicado na revista Psychological Medicine, lança luz sobre os impactos estruturais no cérebro de jovens expostos a esse tipo de adversidade.
Conduzido com 795 participantes entre 6 e 21 anos, o estudo utilizou dados da Coorte Brasileira de Alto Risco para Transtornos Mentais (BHRC) e analisou exames de ressonância magnética em três diferentes momentos. O objetivo foi compreender como a exposição ao trauma infantil afeta o hipocampo – região cerebral essencial para a memória, aprendizado e regulação emocional.
Os resultados são alarmantes: altos níveis de exposição ao trauma estão associados a uma redução persistente no volume do hipocampo direito, mesmo após ajustes para fatores genéticos e presença de transtornos mentais. Essa assimetria sugere que o hipocampo direito é mais vulnerável a danos relacionados ao estresse precoce, enquanto o esquerdo parece mais resiliente.
Essa alteração não é apenas anatômica, mas funcional. Danos ao hipocampo podem resultar em dificuldades de aprendizado, maior suscetibilidade ao estresse e riscos elevados de desenvolver transtornos como depressão e ansiedade.
A psiquiatra Victoria Doretto, autora principal do estudo, destaca que mesmo com melhorias clínicas, os efeitos no hipocampo permanecem. Isso reforça a urgência de intervenções precoces – tanto em políticas públicas quanto em tratamentos individualizados – que visem minimizar os impactos do trauma.
Nesse contexto, a avaliação neuropsicológica torna-se uma ferramenta essencial. Ela permite identificar de forma precisa os comprometimentos cognitivos, comportamentais e emocionais decorrentes dos maus-tratos, oferecendo subsídios objetivos para o diagnóstico e para a formulação de estratégias terapêuticas eficazes. Através de testes padronizados, é possível mapear déficits em memória, atenção, linguagem e funções executivas, fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento saudável.
Se você suspeita que uma criança ou adolescente sob seus cuidados pode ter sido exposto a situações de abuso ou negligência, agende uma avaliação neuropsicológica com um especialista. Entender os danos é o primeiro passo para promover a recuperação e o desenvolvimento saudável.
Além disso, o estudo sublinha a importância de ambientes seguros e estratégias preventivas no desenvolvimento infantil. O trauma não afeta todas as crianças da mesma forma; sua intensidade e frequência são determinantes nos efeitos a longo prazo.
O trabalho representa um avanço significativo na neurociência do trauma e chama atenção para a necessidade de ações intersetoriais que integrem saúde, educação e assistência social.
Na psicologia forense, compreender os efeitos neurobiológicos dos maus-tratos é crucial não apenas para avaliação de vítimas, mas também para fundamentar políticas de proteção e justiça para crianças e adolescentes.
Conclusão:
A ciência reforça o que a prática clínica já nos mostra: proteger a infância é uma responsabilidade coletiva. O cérebro em desenvolvimento clama por cuidado, e cada experiência conta. E para entender a extensão do impacto e guiar intervenções eficazes, a avaliação neuropsicológica é uma aliada indispensável.